Há hipocrisia no lamento por Palmira
Por:
22/05/2015
-
Hipocrisia é um dos
ingredientes mais abundantes nos lamentos pelo destino de relíquias históricas
do Iraque e da Síria diante do avanço do dito Estado Islâmico-EI. No caso do Iraque, o saque
ao patrimônio histórico e cultural começou muito antes da existência do EI:
data do momento mesmo em que as forças americanas entraram em Bagdá, em abril
de 2003.
Um levantamento feito por
iniciativa do próprio governo americano na época da invasão listou entre 14 mil
e 15 mil peças roubadas do Museu do Iraque. A pilhagem teria sido obra de pelo
menos três grandes grupos: ladrões profissionais (miraram tesouros valiosos),
vândalos (surrupiaram cerca de 3 mil artefatos arqueológicos) e empregados do
próprio museu (interessados em joias e cilindros de selo).
Patrimônio artístico e cultural sempre foi alvo
fácil durante conflagrações. Em 2012, centenas de obras de arte suspeitas de
terem sido pilhadas pela Alemanha foram descobertas na casa do filho do famoso
colecionador Hildebrand Gurlitt, negociador de “arte degenerada” durante a era
nazista, em Munique.
Hitler exigiu que Paris fosse arrasada em 1944
(como ocorreria com Varsóvia), e as maravilhas da capital francesa só
sobreviveram porque a ordem foi desobedecida. Os museus do Afeganistão foram
arrasados nos últimos 20 anos. Pouco resta da arte do período Khmer no Camboja
depois que o Depósito de Conservação de Angkor foi arrasado pela guerra civil
nos anos 1970.
Nada disso absolve o EI de seus crimes flagrantes
contra o patrimônio cultural, como os registrados em Mossul, Nínive e Nimrod.
Em artigo publicado na revista The New Yorker, o repórter americano Dexter
Filkins lembra de ter visitado Palmira em 2003 e pensado que, afinal, o ditador
Bashar al-Assad merecia crédito por deixar o oásis em paz – algo que
provavelmente não poderá ser dito em relação ao EI.
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