O “Colecionismo Ilustrado” na gênese dos museus contemporâneos.
ALMEIDA, Cícero Antonio Fonseca de(1)
A partir do século XVIII,
no contexto sócio-político de nascimento dos estados nacionais europeus,
fortalece-se a noção de patrimônio que deve ser preservado, representando a
nação. A prática colecionista anterior,
entretanto, é que deu lastro a este (re)descobrimento do valor simbólico presente
nos objetos e obras.
Torna-se importante
compreender esse processo quando os
objetos perdem seu função original e, envolvidos em desejos e intenções,
recebem um novo significado. Os objetos de uma coleção deixam de ser utilizados
na forma em que foram concebidos e passam a ter significado. Mesmo objetos
construídos ‘sem função’ passam componentes de um novo sistema onde são
analisados à luz da cultura que os envolve. Passam a ser ‘recontados’ pelos olhares de
quem os adquiriu e do público visitante. Pomian(2) sintetiza a transformação de objeto
utilitário para objeto-símbolo nas coleções e nos museus:
...as fechaduras e as chaves que não fecham nem abrem
porta alguma....aos relógios que ninguém espera a hora
exata...Tudo se passa como se não houvesse outra finali-
dade do que acumular os objetos para os expor ao olhar...
A ‘invenção’ do museu.
A Revolução Francesa que
fortaleceu o conceito de ‘patrimônio nacional’ foi o ponto de partida dessa nova
concepção expandida posteriormente aos nascentes estados nacionais. Sob as normativas
da Assembléia, bens da igreja e da nobreza foram confiscados para se tornarem,
como propriedade pública, símbolos da nação emergente. A partir daí, vê-se o nascimento do Louvre-na
própria sede monárquica, do museus dos Monumentos Franceses e outros, com a
denominação de museu, que já vinha identificando estes espaços desde o
Renascimento(sec XIV-XVI). O resgate
dessa denominação rende homenagem à
Alexandria como local de estudos e discussões entre sábios.
Se a consolidação dos
estados nacionais contribuiu para a formação dos museus, também há de se
incluir nesse processo o colecionismo, herdado da Antiguidade Clássica com sua
releitura nos valores iluministas que buscavam explicações racionais do mundo e
resgate dos valores da Antiguidade.
Louvre |
(1)Sobre o autor:
Museólogo,
com mestrado em Memória Social e Documento pela Universidade do Rio de
Fontes:
ALMEIDA, Cícero Antonio
Fonseca de. O “Colecionismo Ilustrado” na gênese dos museus contemporâneos. Anais do Museu Histórico Nacional. Rio
de Jane iro: Ministério da Cultura/IPHAN,
nº 33, 2001.p.123-140.
(2) Pomian, Krzysztof. Coleção.In Enciclopédia Einaudi. vol.1, Memória-História. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1983.
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