terça-feira, 8 de dezembro de 2015

AS GALERIAS MUNICIPAIS DE ARTE 


A Pinacoteca Municipal Aldo Locatelli está situada em dois pavimentos do prédio do paço municipal: Paço dos Açorianos, na esquina das Avenida Borges de Medeiros e Rua Uruguai, no Centro Histórico de Porto Alegre - RS.  O prédio foi edificado entre 1898 e 1901 para tornar-se a sede da Intendência de Porto Alegre, na administração de José Montaury de Aguiar Leitão (intendente no período 1897-1924).

Hoje, o prédio de três pavimentos, é ocupado pelos gabinetes do prefeito municipal e do vice-prefeito e pela Pinacoteca Aldo Locatelli, antes sediada no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). É projeto do italiano João Antonio Luiz Carrara Colfosco e foi construído, a partir do aterramento da Doca do Carvão, com características classicistas: marcação dos planos horizontais, a emergência da edificação em relação ao espaço circundante e a importância de todas as fachadas, dando à edificação um aspecto suntuoso e imponente.
Paço Municipal no Centro Histórico de Porto Alegre 

O edifício ostenta elementos simbólicos do Positivismo, corrente filosófica hegemônica no Estado à época, tais como os grupos escultóricos colocados nas fachadas representando a liberdade, a história, o busto de Péricles, a democracia e a ciência. Também aparecem elementos alegóricos referentes à Agricultura, ao Comércio, à Indústria, à Justiça e à República. Na fachada da torre há os bustos de José Bonifácio e do Marechal Deodoro da Fonseca, ladeando o Brasão da República. O edifício é tombado pelo EPAHC desde 1979.

Em frente ao prédio está instalada a Fonte Talavera de La Reina, doada pela comunidade espanhola ao município, na data centenária da Revolução Farroupilha.  

HISTORIA DA COLEÇÃO: em 07/Nov/1974 a coleção foi oficializada por ato municipal, recebendo a denominação de Aldo Locatelli. Na década de 80, devido a dificuldades de manutenção da mesma no Paço Municipal, foi transferida para a sede do MARGS, retornando finalmente ao local atual, após trabalhos de restauro e conservação, em 2008, já contando com Sala de Reserva Técnica e salas expositivas adequadas.  A  origem estampa a intencionalidade em sua formação.  
 “A Pinacoteca Aldo Locatelli tem sua origem na antiga pinacoteca que foi sendo formada desde o início do século XVIII pela Câmara Municipal de Porto Alegre. Segundo o costume da época, [...] tinha tanto o objetivo de adorno e desfrute estético, como de reafirmar visivelmente a ideologia dominante” (SILVA, 2013, p. 11).    
Dispersas, nas sucessivas gestões, no início dos anos 1970, Leandro da Silva Telles - servidor municipal, ficou responsável pela reunião de imagens de ex-governantes municipais e estaduais que estavam na prefeitura para expô-los no Salão Nobre do Paço Municipal. A esta tarefa se seguiu a busca e recolhimento de outras tantas peças do acervo municipal que estavam alocadas em diversos outros espaços públicos.   Formada a Pinacoteca Municipal, seu acervo foi dado público no prédio atual e, através de novas aquisições- marcadamente doações, seu patrimônio cresceu e se diversificou.    
Finda a década de 1970, os anos que se seguiram foram de menor investimento em sua manutenção só retomada a partir de 1989 sob tutela da recém-criada Secretaria Municipal da Cultura que investiu em restauro e conservação, pesquisa e tombamento de seu acervo então realocado do MARGS, para o Paço Municipal.  
No momento desse trabalho, a Aldo Locatelli está apresentando as exposições “Quando o longe é perto (1899-1948)”, “No quase presente (1970-2012)” e “Do cotidiano das cidades” no pavimento térreo e no subsolo mantém as peças de seu acervo tridimensional.  Também podem ser vistas as imagens  de antigos administradores, como ex-prefeito Loureiro da Silva,  busto de Julio de Castilhos,  Senador Pinheiro Machado e imagens da cidade de Falcone, Benito Castaneda , Torquato Bassi e outros.  
  
As lavadeiras na Praia do Riacho - Otto Dinger 

Auto-retrato
O HOMENAGEADO: Aldo Daniele Locatelli, nascido em Bergamo, chegou ao Rio Grande do Sul em 1948 para realizar pinturas sacras na cidade de Pelotas.  De estilo clássico, seus trabalhos foram influenciados pelos movimentos artísticos dos anos 1950-1960. Muralista, suas obras permanecem no Palácio Piratini, Aeroporto Salgado Filho, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde lecionou, no Instituto de Artes.  
                               
As profissões-mural na Reitoria UFRGS

O QUE HOJE SE VÊ: O acervo exposto no recorte “1899-1948”, com obras de Gotuzzo, Weingartner, Otto Dinger, Bertoni, Ferrão, Ângelo Guido e Afonso Silva, dedica-se especialmente a paisagens não limitadas a nossa cidade, mas também do interior RS e de outras cidades brasileiras. As referências à cidade de Porto Alegre aparecem em “As lavadeiras da Praia do Riacho”- 1899,  “Ponta Grossa”, Ponte do Riacho”, “Paisagem vista do Cristal” . Em “1970-2012”, a representação da cidade é ausente, pois trata de obras com temática universal como  a liberdade, esperança...
Weingartner/ Barra do Ribeiro-1918-Acervo Aldo Locatelli 
Nas demais áreas expositivas, a cidade aparece representada por obras de Benito Castaneda (“Abrigo da Praça 15”),  Angelo Guido (“Largo da Intendência” e “Mercado de Porto Alegre”),  Falcone (“Vista do Guaíba”),  Luis de Trias (“Docas” e “Abertura da Borges de Medeiros”),  José de Francesco (“Paço da Matriz, onde retrata também as negras vendedoras de tabuleiros). Também se observa o bronze “A Samaritana” que remete ao período 1925-1935, época que a mesma ocupou a praça em frente ao prédio.
O “Do cotidiano das cidades” de Roberto Muller, traz para o espaço a crítica à ocupação desordenada das cidades e sua descaracterização.  O porão do prédio, com obras tridimensionais, aborda forte temática social como “Distorção da fome”, os bronzes “Gabirus” de Xico Stockinger e históricas ligadas ao município como a antiga bacia da Fonte Talavera e a maquete do Monumento aos Açorianos. Também apresenta composições de temáticas diversas, de autores porto-alegrenses ou aqui radicados.   
REFERENCIAS: 

BAKOS, Margareth M. Porto Alegre e seus eternos intendentes. POA, EDIPUCRS, 2013

FRANCO, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. Porto Alegre: Editora da Universidade (UFRGS) / Prefeitura Municipal, 1988.



MENESES, Ulpiano T. Bezerra de. O museu na cidade, a cidade no museu: para uma abordagem histórica dos museus de cidade. Revista Brasileira de história, v.5 n. (8-9); p.197-205, set. 1984 abr, 1985.

OLIVEIRA, Luciana da Costa de. "A Formação Histórico-etnográfica do Povo Riograndense", de Aldo Locatelli:  os entornos de uma produção muralística. IN Anais do X Encontro Estadual de História "O Brasil no Sul: Cruzando Fronteiras entre o Regional e o Nacional". Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 26 a 30 de julho de 2010. s/PP

PETTINI, Ana : KRAWCZYK, Flávio. (org) Pinacotecas Aldo LOcatelli e Ruben Berta: Acervo artístico da Prefeitura de Porto Alegre. Palotti, 2008. 

SILVA, Luiz Mariano Figueira da. A formação do acervo de Porto Alegre: a gênese das pinacoteccas municiais nos anos 1970-TCC/UFRGS/Porto Alegre-2013. 


                          


MERCADO PÚBLICO CENTRAL DE PORTO ALEGRE




Inaugurado em 1869 para o abastecimento da cidade, abrigou as atividades comerciais que anteriormente se desenvolviam na Praça da Alfândega e no Largo do Paraíso.

1875-Mercado Público
 Desde 1979 é tombado como patrimônio histórico e cultural da cidade.  


Seu prédio já sofreu incêndios nos anos de 1912, 1976, 1979 e 2013. Também sofreu avarias na enchente de 1942 e nos anos 1970 esteve ameaçado de demolição em nome da remodelação urbana na região. Esse processo foi cancelado devido à forte manifestação de cidadãos, que repercutiu nos órgãos da imprensa.        
Quando inaugurado ostentava apenas o pavimento térreo e os quatro torreões ainda vistos, nos extremos do quadilátero. 
 
1840-Porto Alegre 
Entre os seguidores de religião de matriz africana, o Mercado Público de Porto Alegre é uma referência por  acreditarem que ao centro do edifício está assentado o Orixá Bará, que, dentro do panteão africano, é a entidade que abre os caminhos, o guardião das casas e cidades e representa o trabalho e a fartura. 



 O prédio em estilo eclético com influencia neoclássica recebeu, a partir de 1980, um extenso projeto de restauro que buscava resgatar os espaços de sociabilidade, otimizar o abastecimento, além de resgatar a estética da edificação. Dentre os participantes da equipe, deram seu depoimento sobre a participação na reforma, nesta aula de 23 de setembro, além da Professora Zita, o historiador Pedro Vargas e a arquiteta Dóris Oliveira. 


O mercado recebeu uma cobertura de aço e vidro que se sobrepõe ao conjunto arquitetônico original, sem interferir em seu trabeculado.    






VARGAS, Pedro R. N. F. O uso do conceito de relação patrimonial nos estudos sobre representações do patrimônio: entre objeto e o processo de patrimonialização. Historiæ, Rio Grande, 3 (3): 113-135, 2012.

Anotações em aula de 23-set-2015. 

BENEFICÊNCIA PORTUGUESA DE PORTO ALEGRE,  MUSEU DA HISTÓRIA DA MEDICINA e CENTRO HISTÓRICO CULTURAL DA SANTA CASA. 

A Beneficência Portuguesa de Porto Alegre está localizada na Avenida Independência, em Porto Alegre. Em 1854, cidadãos portugueses residentes no Estado reuniram-se com intuito de fundar a Sociedade Beneficente para amparo de seus compatriotas. Na fase inicial, sem recursos suficientes, utilizavam, via contrato, o atendimento da Santa Casa de Misericórdia, mas em 1858 adquiriram uma casa para este fim na Rua da Figueira (atual Cel. Genuíno).
BENEFICÊNCIA PORTUGUESA 1909
Por doação de terreno,  e com projeto do engenheiro Frederico Heydtmann foi , foi providenciada a construção da sede atual inaugurada em 1870. Possui fachada em estilo eclético, influenciado pela arquitetura colonial portuguesa. As janelas ostentam arco redondo e no topo da fachada ostenta platibanda e frontão, escudos do Reino de Portugal e do Império do Brasil e a data de 1868.    
Corredor da instituição




MUHM - Desde 2007, junto ao casarão da Beneficência Portuguesa funciona o Museu da História da Medicina, iniciativa do SIMERS-Sindicato Médico do RS. Em nossa visita, fomos recebidos por Everton Quevedo que discorreu sobre a missão do Museu e seu relacionamento com os fazeres da instituição histórica que os abriga. 

O MHUM tem se destacado, principalmente através da doação dos associados do SIMERS,  pela construção de seu acervo de equipamentos e instrumentais como material bibliográfico que contam a história da medicina em nosso Estado.  O Sindicato nasceu em 1931 na luta pela regulamentação do exercício da profissão, obtido no ano seguinte.  
Instrumental do acervo do MUHM

      Na visita ao Centro Histórico Cultural da Santa Casa de Porto Alegre fomos recebidos pela historiadora Véra Barroso que, entusiasmada, discorreu sobre a transformação daquele espaço antes ocupado por 8 casinhas de aluguel na atual estrutura do CHSC.  Após, nos conduziu pela exposição permanente “Fragmentos da História de Todos Nós” no Museu Joaquim Francisco do Livramento onde mais de 7mil objetos e documentos contam a história da fundação e dos fazeres daquela instituição hospital. 
Ao centro, historiadora Véra Barroso


Em exposição vimos equipamentos e instrumentais, vestimentas e seu acervo arqueológico coletado em uma lixeira do hospital encontrada no quintal de uma das unidades, quando da remoção do conjunto de casas.    
O espaço ainda abriga salas de multiuso, biblioteca, auditório, salas de aula, cafeteria e loja. 
Roda dos Expostos no Museu Joaquim Francisco do Livramento. 

MUSEU DE PERCURSO DO NEGRO EM PORTO ALEGRE




O Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre, através da instalação de obras de arte em pontos selecionados, busca visibilizar em Porto Alegre a comunidade afrobrasileira.

O projeto nasceu do entendimento de que a falta de representatividade no patrimônio cultural remetia à invisibilidade social desta parte da população. Assim, as obras de arte foram colocadas nos locais de presença e passagem dos ancestrais da atual comunidade negra na cidade de Porto Alegre, como a Praça Brigadeiro Sampaio (local onde os negros sentenciados e condenados à morte eram enforcados: o Largo  da Forca, lugar escolhido para a construção do "Tambor", o primeiro  marco escultural do Museu de Percurso do Negro em Porto Alegre),  o Mercado Público de Porto Alegre cuja importância se explica por acreditarem que ao centro do edifício está assentado o Orixá Bará, que, dentro do panteão africano, é a entidade que abre os caminhos, o guardião das casas e cidades e representa o trabalho e a fartura, para os adeptos das religiões de matriz africana. e a Praça da Alfândega (uma das vias de chegada e fuga, local da antiga Praça da Quitanda onde vendiam quitutes, rendas e bordados). Outros locais vivenciados pelos negros foram a Esquina do Zaire (Av. Borges de Medeiros com Rua da Praia), a Igreja da Nossa Senhora do Rosário, o Mercado Público e a Santa Casa de Misericórdia, a Colônia África e o Areal da Baronesa.
No projeto “Territórios Negros: Afro-brasileiros em Porto Alegre”, da Secretaria Municipal da Educação, um ônibus da Cia. Carris percorre oito pontos da cidade que evocam a presença, a memória, o protagonismo dos africanos e descendentes na cidade de Porto Alegre.
 
1. Praça Brigadeiro Sampaio,  
Tambor, primeiro marco escultural do Museu do Percurso do Negro em POA 
2. Igreja Nossa Senhora das Dores: local de supliciamento dos africanos e seus descendentes escravizados no Pelourinho, em frente a igreja que localiza-se na Andradas, 597.  Uma planta da cidade de 1839 ainda o assinala neste local, mas dali em diante ele não é mais citado nas fontes históricas.  
Igreja das Dores


3. Mercado Público
Bará do Mercado

4. Parque Farroupilha Antes da Lei Áurea, muitos senhores libertaram escravos, que frequentavam o parque. Por conta da redenção dos negros, o espaço passou a ser chamado Campos de Redenção, em 1884.
5. Colônia Africana, nos bairros Bom Fim e Rio Branco onde se localizaram algumas das primeiras moradias de ex-escravos.
6. Ilhota, nas imediações do Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues, na Erico Verissimo, ficava uma área alagadiça que se tornou um bairro de ex-escravos após a abolição. Nos anos 1930, abrigava jogos da Liga dos Canelas Pretas, que revelou talentos negros do futebol.

7. Areal da Baronesa, a Travessa Luiz Guaragna abrigava a chácara da baronesa do Gravataí. Com a morte da baronesa e a abolição da escravatura, os escravos alforriados passaram a ocupar o espaço, reconhecido atualmente como território quilombola urbano.
8. Largo Zumbi dos Palmares Abrigava reuniões e rodas de capoeira de movimentos de resistência de afrodescendentes nos anos 1970. No século 19, o espaço era coberto por denso matagal, servindo como esconderijo para escravos fugidos.


REFERENCIAS:
Franco, Sérgio da Costa. Guia Histórico de Porto Alegre. Porto Alegre: EdiUFRGS, 2006.
http://memorialdomercado.blogspot.com.br/

domingo, 6 de dezembro de 2015

Museu Julio de Castilhos



O Museu Julio de Castilhos nasceu no início do século XX como Museu do Estado por decreto do, à época, presidente do Estado, Antonio Augusto Borges de Medeiros. Sua criação permitiu abrigar as coleções de minerais extraídas do solo gaúcho e expostas ao público na Exposição Agropecuária e Industrial do Rio Grande do Sul que se realizou em 1901, no Campo da Redenção (SILVA, 2012).  Ligado à estrutura administrativa da Secretaria de Obras do Estado, surgiu vocacionado para as ciências naturais, eis que se compunha originalmente de seções de zoologia, botânica, mineralogia, antropologia, paleontologia, geologia. Apenas uma das seções se dedicava aos documentos históricos e artes.
Seguida à morte de Julio Prates de Castilhos, o governo estadual adquiriu dos herdeiros a residência da família na Rua Duque de Caxias, 1231 e para lá transferiu o museu em 1905. Imediato à transferência e em épocas posteriores, a Direção do Museu manifesta-se acerca do pequeno espaço disponível para exposições do acervo, falta de luz nos cômodos, presença de colônia de algas verdes (‘limo’), próprio de locais úmidos e com pouca ou nenhuma incidência de luz solar, coleção d’água nos porões, terreno de formato irregular e edificação situada entre prédios vizinhos de maior porte-o que impedia sua expansão. Nos anos 50, com a criação do Arquivo Histórico, Museu de Ciências Naturais (atual Fundação Zoobotânica) e Museu de Artes do RS, parte do acervo foi realocado, mantendo-se apenas a guarda e exposição do acervo histórico regional no Museu Julio de Castilhos. Nos anos 70 manteve-se fechado por um longo período para reformas na edificação e, reaberto, proporcionou a nós, estudantes do ensino primário de Porto Alegre, emocionantes e barulhentas visitas em grupos, repletas de histórias mirabolantes sobre fantasmas e gigantes!   Em 1996, a casa ao lado, de número 1205, construída nos anos 20, foi agregada ao prédio original do Museu permitindo um maior espaço para exposições, atividades administrativas, sanitários e construção da reserva técnica II. Informa o Museu em seu site que hoje conta com mais de 11 mil objetos que se dividem em 29 coleções: iconografia (pinturas, gravuras e fotos), indumentária, armaria, etnografia, escravistas, documentos, máquinas, utensílios domésticos e pessoais, dentre outros.  
www.museujuliodecastilhos.blogspot
O prédio localiza-se no Centro Histórico, na parte elevada da cidade, na Rua Duque de Caxias, onde não é comum colecionar água na via após por chuvas intensas. Ocorre, entretanto, que a edificação apóia-se em terreno fortemente inclinado que, finalizando na Rua Cel. Fernando Machado, apresenta-se próprio para formação de extensas correntes d´água em épocas de chuvas. Avizinha-se ao Lago Guaíba através de terrenos que foram obtidos por aterramento da orla do mesmo a partir da Rua Washington Luis.  Apesar de sua fachada ter boa orientação solar, os elementos edificados em seu entorno retiram-lhe as condições de insolação e ventilação necessárias. Por se tratar de uma via de grande circulação de porto-alegrenses e automóveis e vital para acessos aos bairros Independência, Moinhos de Vento e região norte da cidade, que frequentemente apresenta engarrafamentos no trânsito, torna o Museu e seus usuários vítimas também das poluições sonora e ambiental.     
    

Na visita, observamos várias situações que negligenciam a conservação preventiva que garantiria sobrevida às coleções na instituição museológica, como na sala de exposições temporárias onde chama atenção a presença de fungos (‘mofo’) acima da janela e abaixo do forro do telhado. Neste caso, os danos não se limitam aos objetos ali expostos, mas também à saúde dos circulantes: visitantes, funcionários, prestadores de serviço; presença d’água e umidade se repete nas salas da Revolução Farroupilha (piso), Sala Júlio de Castilhos (fungos nas paredes), exposição de carruagem; presença de algas (‘limo’),  fungos (‘mofo’) e  coleção de poeira no mobiliário e aracnídeos com suas teias!... Em relação ao material em exposição, percebem-se cuidados quanto à integridade do acervo mantendo em expositores fechados muitas das peças de constituição frágil. Nota-se a realização de pesquisa para efetiva comunicação ao público.

Infiltrações d'água na
Sala de Exposições

Na Sala Júlio de Castilhos está em exposição a máscara mortuária do líder político confeccionada há mais de 110 anos e envolta em redoma transparente rígida. Informa o Museu que a mesma foi obtida com gesso (sulfato de cálcio diidratado), muito provavelmente do Tipo I-utilizado para moldagens diretas. Este material tem comportamento hidrófilo e, a julgar para aparente manutenção dimensional e ausência de fissuras nas áreas visíveis, a proteção rígida que porta tem mantido a peça em ambiente estável, quanto à umidade                       
                           
Fungos nas paredes
Na área externa do Museu estão afixados em pedestais ou apenas posicionados sobre o solo,  vários exemplares de canhões. Estão expostos à matéria particulada suspensa proveniente da poluição atmosférica que ativa as reações de óxido-redução (corrosão) inicialmente em sua superfície. Além de impossibilitar o controle da umidade relativa do ar, a exposição ao ar livre também os tornam alvos de resíduos orgânicos de pássaros (componentes ácido e bacteriano) e outros animais de menor porte.   
Canhões na área externa.
As situações relatadas certamente não ocorrem por desconhecimento, mas pelas próprias condições da edificação que habita, transformada em museu, a partir de uma residência do início do século passado. Essa desadequação, minimizada pela agregação da residência número 1205, já era registrada por seu diretor Simch em seus relatórios, tão logo ocupou o casarão da Duque de Caxias (SILVA,2012).  Embora a utilização de prédios históricos para abrigo de museus não seja rara no mundo, como Museus d’Orsay, Carnavalet, Residenz e Louvre, para adequá-los à instalação de um museu, foram aportados recursos financeiros e humanos, salvaguardando os bens culturais. Sabe-se também das dificuldades na obtenção de receita para manutenção e investimentos no Museu Julio de Castilhos que, associados a recursos humanos capacitados, permitiriam implementar as medidas  corretivas necessárias na instituição. Na busca da preservação de nossa história, entretanto, tem de se aplaudir as pequenas providências adotadas por sua administração e que desacelerarão a degradação de bens.          

REFERÊNCIAS:

FRONER, Yacy-Ara;  SOUZA, Luiz A.C. Preservação de bens patrimoniais. In: Tópicos em Conservação Preventiva. Belo Horizonte. Escola de Belas Artes. 2008.

GOOGLE MAPS. Disponível em <https://www.google.com.br/maps/place>. Acesso em 10 de outubro de 2015.

http://museujuliodecastilhos.blogspot.com.br/

IBRAM. Gestão de riscos ao patrimônio musealizado brasileiro. Rio de Janeiro. 2013.

LEAL, Elisabete da Costa. Filósofos em Tintas e Bronze: arte, positivismo e política
na obra de Décio Villares e Eduardo de Sá. Rio de Janeiro, 2006. 298 f.: il.
NEDEL, Letícia Borges. Breviário de um museu mutante. Universidade de Brasília – Brasil. In: Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 11, n. 23, p. 87-112, jan/jun 2005

SILVA, Ana C.F. O museu e a consagração da memória de Julio de Castilhos (1903-1925). Trabalho de conclusão de curso (graduação em Museologia) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

Fotos atuais: da autora do blog.  


   


sábado, 5 de dezembro de 2015

PRAÇA DA ALFÂNDEGA, MUSEU DE ARTES DO RIO GRANDE DO SUL E MEMORIAL DO RIO GRANDE DO SUL

Em 1740, Jerônimo de Ornellas recebeu a doação de sesmaria  e deu início oficial à cidade, o Porto de Dorneles. Por aqui aportaram, logo depois, casais portugueses oriundos das Ilhas dos Açores. Seu destino era a região das Missões, mas como estava em litígio, ficaram na cidade e, em louvor de seu santo de devoção, foi construída a Capela de São Francisco das Chagas, na atual Rua dos Andradas. De Porto de São Francisco dos Casais, passou a ser denominada Porto dos Casais. Naquela região, formada pela margem fluvial e atuais Ruas General Câmara, Caldas Junior e Andradas, exercia-se atividade comercial de pequena monta em quitandas e tabuleiros, o que determinou a denominação do espaço como Largo da Quitanda. 
Praça da Alfândega-dias atuais

A cidade distinguida em seus fazeres e topografia dividia-se em uma parte baixa, perto do rio onde se exercia a atividade comercial e a parte alta onde estavam construídas as residências da elite local, teatro, palácio governamental...    

Cais - foto 1900
Em 1803, a Alfândega inicia suas atividades e logo depois é construído um trapiche para maior conforto no recebimento e remessa de mercadorias, futuros moradores livres (como portugueses) e escravos. Em 1806, foi construído um trapiche que no ano seguinte recebeu dois guindastes. Com os aterros e a construção de um novo porto, no início do século XX, já sem atividade, o trapiche foi destruído.
Em 1819, em frente ao antigo trapiche, mas dele separado pela atual Rua Sete de Setembro, teve início a construção do prédio da Alfândega. Com esta edificação, os comerciantes foram compulsoriamente transferidos para o Largo Paraíso (atual Praça Quinze de Novembro). Como houve resistência, foi acordada a permanência dos mesmos no lado oeste da praça.  O prédio foi concluído em 1824.
Em 1848, inicia-se o calçamento de algumas vias como a Rua da Praia, da Bragança (Marechal Floriano) e Praça Paraíso. Em 1866 iniciou-se a arborização da praça que recebeu um chafariz e em 1893, seu nome foi alterado oficialmente para Praça Senador Florêncio.
Em 1912, com a europização das cidades, foi demolido o prédio da Alfândega de 1819, aterrado mais de cem metros de largura do Guaíba e providenciadas as construções do prédio  atual da Delegacia Fiscal (hoje ocupado pelo MARGS) e dos Correios e Telégrafos (hoje Memorial do Rio Grande do Sul).   A região recebeu árvores como palmeiras-da-Califórnia e jacarandás. Na Rua da Praia surgem os cafés, cinemas e redações de jornais.
No período 1913-1914 foi construído o novo prédio da Delegacia Regional da Fazenda no RS, onde, desde 1978 situa-se o MARGS- Museu de Artes do RS.  O projeto arquitetônico é de autoria do arquiteto alemão aqui radicado Theodor Wiederspahn.  Em 1981 foi tombado pelo IPHAN e em 1985 pelo IPHAE.

Prédio dos Correios e Telégrafos (Memorial do RS): assim como o da Delegacia Regional da Fazenda, foi projetado por Theo Wiederspahn e segue estilo eclético com influência no barroco alemão (1910-1930). Foi construído no período 1910-1913.  Nesses prédios destacam-se o exuberante decorativismo e a filosofia positivista do Governo mostrando sua visão de progresso, ordem, higiene e civilização. É significativa a presença de estatuária, especialmente nas fachadas e o uso de concreto, aço e cimento.  Adotam os moldes de cimento e o uso de vitrais e adornos em serralheria.      



Fotos: autora blog. 


Referências:
EZEQUIEL, Marcio. Alfândega de Porto Alegre: 200 anos de história. Porto Alegre, Sindireceita, 2007.

FRANCO, Sérgio da Costa. Guia histórico de Porto Alegre.  2. ed. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1992.
XAVIER, Luiz Merino. A cidade como livro didático: educação patrimonial no âmbito do Programa Monumenta Porto Alegre. In: POSSAMAI, Zita Rosane (Org.). Leituras da Cidade. Porto Alegre: Evangraf, 2010. P. 257-273
Anotações da aula de 19/ago/2015: Professores Drs. Zita Possamai e Luiz Merino Xavier.