Museu Julio de Castilhos
O Museu Julio de Castilhos nasceu no
início do século XX como Museu do Estado por decreto do, à época, presidente do
Estado, Antonio Augusto Borges de Medeiros. Sua criação permitiu abrigar as
coleções de minerais extraídas do solo gaúcho e expostas ao público na
Exposição Agropecuária e Industrial do Rio Grande do Sul que se realizou em
1901, no Campo da Redenção (SILVA, 2012).
Ligado à estrutura administrativa da Secretaria de Obras do Estado,
surgiu vocacionado para as ciências naturais, eis que se compunha originalmente
de seções de zoologia, botânica, mineralogia, antropologia, paleontologia,
geologia. Apenas uma das seções se dedicava aos documentos históricos e artes.
Seguida à morte de Julio Prates de
Castilhos, o governo estadual adquiriu dos herdeiros a residência da família na
Rua Duque de Caxias, 1231 e para lá transferiu o museu em 1905. Imediato à
transferência e em épocas posteriores, a Direção do Museu manifesta-se acerca
do pequeno espaço disponível para exposições do acervo, falta de luz nos
cômodos, presença de colônia de algas verdes (‘limo’), próprio de locais úmidos
e com pouca ou nenhuma incidência de luz solar, coleção d’água nos porões,
terreno de formato irregular e edificação situada entre prédios vizinhos de
maior porte-o que impedia sua expansão. Nos anos 50, com a criação do Arquivo
Histórico, Museu de Ciências Naturais (atual Fundação Zoobotânica) e Museu de
Artes do RS, parte do acervo foi realocado, mantendo-se apenas a guarda e
exposição do acervo histórico regional no Museu Julio de Castilhos. Nos anos 70
manteve-se fechado por um longo período para reformas na edificação e,
reaberto, proporcionou a nós, estudantes do ensino primário de Porto Alegre,
emocionantes e barulhentas visitas em grupos, repletas de histórias
mirabolantes sobre fantasmas e gigantes!
Em 1996, a
casa ao lado, de número 1205, construída nos anos 20, foi agregada ao prédio
original do Museu permitindo um maior espaço para exposições, atividades
administrativas, sanitários e construção da reserva técnica II. Informa o Museu
em seu site que hoje conta com mais de 11 mil objetos que se dividem em 29
coleções: iconografia (pinturas, gravuras e fotos), indumentária, armaria,
etnografia, escravistas, documentos, máquinas, utensílios domésticos e
pessoais, dentre outros.
www.museujuliodecastilhos.blogspot |
O prédio localiza-se no Centro
Histórico, na parte elevada da cidade, na Rua Duque de Caxias, onde não é comum
colecionar água na via após por chuvas intensas. Ocorre, entretanto, que a
edificação apóia-se em terreno fortemente inclinado que, finalizando na Rua
Cel. Fernando Machado, apresenta-se próprio para formação de extensas correntes
d´água em épocas de chuvas. Avizinha-se ao Lago Guaíba através de terrenos que
foram obtidos por aterramento da orla do mesmo a partir da Rua Washington
Luis. Apesar de sua fachada ter boa
orientação solar, os elementos edificados em seu entorno retiram-lhe as
condições de insolação e ventilação necessárias. Por se tratar de uma via de
grande circulação de porto-alegrenses e automóveis e vital para acessos aos
bairros Independência, Moinhos de Vento e região norte da cidade, que
frequentemente apresenta engarrafamentos no trânsito, torna o Museu e seus
usuários vítimas também das poluições sonora e ambiental.
Na visita, observamos várias
situações que negligenciam a conservação preventiva que garantiria sobrevida às
coleções na instituição museológica, como na sala de exposições temporárias
onde chama atenção a presença de fungos (‘mofo’) acima da janela e abaixo do
forro do telhado. Neste caso, os danos não se limitam aos objetos ali expostos,
mas também à saúde dos circulantes: visitantes, funcionários, prestadores de
serviço; presença d’água e umidade se repete nas salas da Revolução Farroupilha
(piso), Sala Júlio de Castilhos (fungos nas paredes), exposição de carruagem;
presença de algas (‘limo’), fungos
(‘mofo’) e coleção de poeira no
mobiliário e aracnídeos com suas teias!... Em relação ao material em exposição,
percebem-se cuidados quanto à integridade do acervo mantendo em expositores
fechados muitas das peças de constituição frágil. Nota-se a realização de
pesquisa para efetiva comunicação ao público.
Infiltrações d'água na Sala de Exposições |
Na Sala Júlio
de Castilhos está em exposição a máscara mortuária do líder político
confeccionada há mais de 110 anos e envolta em redoma transparente rígida.
Informa o Museu que a mesma foi obtida com gesso (sulfato de cálcio
diidratado), muito provavelmente do Tipo I-utilizado para moldagens diretas.
Este material tem comportamento hidrófilo e, a julgar para
aparente manutenção dimensional e ausência de fissuras nas áreas visíveis, a
proteção rígida que porta tem mantido a peça em ambiente estável, quanto à
umidade
Fungos nas paredes |
Na área
externa do Museu estão afixados em pedestais ou apenas posicionados sobre o
solo, vários exemplares de canhões.
Estão expostos à matéria particulada suspensa proveniente da poluição
atmosférica que ativa as reações de óxido-redução (corrosão) inicialmente em sua
superfície. Além de impossibilitar o controle da umidade relativa do ar, a
exposição ao ar livre também os tornam alvos de resíduos orgânicos de pássaros
(componentes ácido e bacteriano) e outros animais de menor porte.
Canhões na área externa. |
As situações relatadas certamente
não ocorrem por desconhecimento, mas pelas próprias condições da edificação que
habita, transformada em museu, a partir de uma residência do início do século
passado. Essa desadequação, minimizada pela agregação da residência número
1205, já era registrada por seu diretor Simch em seus relatórios, tão logo
ocupou o casarão da Duque de Caxias (SILVA,2012). Embora a utilização de prédios históricos
para abrigo de museus não seja rara no mundo, como Museus d’Orsay, Carnavalet,
Residenz e Louvre, para adequá-los à instalação de um museu, foram aportados
recursos financeiros e humanos, salvaguardando os bens culturais. Sabe-se
também das dificuldades na obtenção de receita para manutenção e investimentos
no Museu Julio de Castilhos que, associados a recursos humanos capacitados,
permitiriam implementar as medidas
corretivas necessárias na instituição. Na busca da preservação de nossa
história, entretanto, tem de se aplaudir as pequenas providências adotadas por
sua administração e que desacelerarão a degradação de bens.
REFERÊNCIAS:
FRONER, Yacy-Ara; SOUZA, Luiz A.C. Preservação de bens
patrimoniais. In: Tópicos em Conservação
Preventiva. Belo Horizonte. Escola de Belas Artes. 2008.
GOOGLE MAPS. Disponível em <https://www.google.com.br/maps/place>.
Acesso em 10 de outubro de 2015.
http://museujuliodecastilhos.blogspot.com.br/
IBRAM. Gestão de riscos ao patrimônio musealizado brasileiro. Rio de Jane iro. 2013.
LEAL, Elisabete da Costa.
Filósofos em Tintas e Bronze: arte, positivismo e política
na obra de Décio Villares e
Eduardo de Sá. Rio de Jane iro, 2006.
298 f .:
il.
NEDEL, Letícia
Borges. Breviário de um museu mutante. Universidade de Brasília – Brasil.
In:
Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 11, n. 23, p. 87-112, jan/jun 2005
SILVA, Ana C.F. O museu e a consagração da memória de Julio
de Castilhos (1903-1925). Trabalho de conclusão de curso (graduação em
Museologia) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
Fotos atuais: da autora do blog.
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