domingo, 6 de dezembro de 2015

Museu Julio de Castilhos



O Museu Julio de Castilhos nasceu no início do século XX como Museu do Estado por decreto do, à época, presidente do Estado, Antonio Augusto Borges de Medeiros. Sua criação permitiu abrigar as coleções de minerais extraídas do solo gaúcho e expostas ao público na Exposição Agropecuária e Industrial do Rio Grande do Sul que se realizou em 1901, no Campo da Redenção (SILVA, 2012).  Ligado à estrutura administrativa da Secretaria de Obras do Estado, surgiu vocacionado para as ciências naturais, eis que se compunha originalmente de seções de zoologia, botânica, mineralogia, antropologia, paleontologia, geologia. Apenas uma das seções se dedicava aos documentos históricos e artes.
Seguida à morte de Julio Prates de Castilhos, o governo estadual adquiriu dos herdeiros a residência da família na Rua Duque de Caxias, 1231 e para lá transferiu o museu em 1905. Imediato à transferência e em épocas posteriores, a Direção do Museu manifesta-se acerca do pequeno espaço disponível para exposições do acervo, falta de luz nos cômodos, presença de colônia de algas verdes (‘limo’), próprio de locais úmidos e com pouca ou nenhuma incidência de luz solar, coleção d’água nos porões, terreno de formato irregular e edificação situada entre prédios vizinhos de maior porte-o que impedia sua expansão. Nos anos 50, com a criação do Arquivo Histórico, Museu de Ciências Naturais (atual Fundação Zoobotânica) e Museu de Artes do RS, parte do acervo foi realocado, mantendo-se apenas a guarda e exposição do acervo histórico regional no Museu Julio de Castilhos. Nos anos 70 manteve-se fechado por um longo período para reformas na edificação e, reaberto, proporcionou a nós, estudantes do ensino primário de Porto Alegre, emocionantes e barulhentas visitas em grupos, repletas de histórias mirabolantes sobre fantasmas e gigantes!   Em 1996, a casa ao lado, de número 1205, construída nos anos 20, foi agregada ao prédio original do Museu permitindo um maior espaço para exposições, atividades administrativas, sanitários e construção da reserva técnica II. Informa o Museu em seu site que hoje conta com mais de 11 mil objetos que se dividem em 29 coleções: iconografia (pinturas, gravuras e fotos), indumentária, armaria, etnografia, escravistas, documentos, máquinas, utensílios domésticos e pessoais, dentre outros.  
www.museujuliodecastilhos.blogspot
O prédio localiza-se no Centro Histórico, na parte elevada da cidade, na Rua Duque de Caxias, onde não é comum colecionar água na via após por chuvas intensas. Ocorre, entretanto, que a edificação apóia-se em terreno fortemente inclinado que, finalizando na Rua Cel. Fernando Machado, apresenta-se próprio para formação de extensas correntes d´água em épocas de chuvas. Avizinha-se ao Lago Guaíba através de terrenos que foram obtidos por aterramento da orla do mesmo a partir da Rua Washington Luis.  Apesar de sua fachada ter boa orientação solar, os elementos edificados em seu entorno retiram-lhe as condições de insolação e ventilação necessárias. Por se tratar de uma via de grande circulação de porto-alegrenses e automóveis e vital para acessos aos bairros Independência, Moinhos de Vento e região norte da cidade, que frequentemente apresenta engarrafamentos no trânsito, torna o Museu e seus usuários vítimas também das poluições sonora e ambiental.     
    

Na visita, observamos várias situações que negligenciam a conservação preventiva que garantiria sobrevida às coleções na instituição museológica, como na sala de exposições temporárias onde chama atenção a presença de fungos (‘mofo’) acima da janela e abaixo do forro do telhado. Neste caso, os danos não se limitam aos objetos ali expostos, mas também à saúde dos circulantes: visitantes, funcionários, prestadores de serviço; presença d’água e umidade se repete nas salas da Revolução Farroupilha (piso), Sala Júlio de Castilhos (fungos nas paredes), exposição de carruagem; presença de algas (‘limo’),  fungos (‘mofo’) e  coleção de poeira no mobiliário e aracnídeos com suas teias!... Em relação ao material em exposição, percebem-se cuidados quanto à integridade do acervo mantendo em expositores fechados muitas das peças de constituição frágil. Nota-se a realização de pesquisa para efetiva comunicação ao público.

Infiltrações d'água na
Sala de Exposições

Na Sala Júlio de Castilhos está em exposição a máscara mortuária do líder político confeccionada há mais de 110 anos e envolta em redoma transparente rígida. Informa o Museu que a mesma foi obtida com gesso (sulfato de cálcio diidratado), muito provavelmente do Tipo I-utilizado para moldagens diretas. Este material tem comportamento hidrófilo e, a julgar para aparente manutenção dimensional e ausência de fissuras nas áreas visíveis, a proteção rígida que porta tem mantido a peça em ambiente estável, quanto à umidade                       
                           
Fungos nas paredes
Na área externa do Museu estão afixados em pedestais ou apenas posicionados sobre o solo,  vários exemplares de canhões. Estão expostos à matéria particulada suspensa proveniente da poluição atmosférica que ativa as reações de óxido-redução (corrosão) inicialmente em sua superfície. Além de impossibilitar o controle da umidade relativa do ar, a exposição ao ar livre também os tornam alvos de resíduos orgânicos de pássaros (componentes ácido e bacteriano) e outros animais de menor porte.   
Canhões na área externa.
As situações relatadas certamente não ocorrem por desconhecimento, mas pelas próprias condições da edificação que habita, transformada em museu, a partir de uma residência do início do século passado. Essa desadequação, minimizada pela agregação da residência número 1205, já era registrada por seu diretor Simch em seus relatórios, tão logo ocupou o casarão da Duque de Caxias (SILVA,2012).  Embora a utilização de prédios históricos para abrigo de museus não seja rara no mundo, como Museus d’Orsay, Carnavalet, Residenz e Louvre, para adequá-los à instalação de um museu, foram aportados recursos financeiros e humanos, salvaguardando os bens culturais. Sabe-se também das dificuldades na obtenção de receita para manutenção e investimentos no Museu Julio de Castilhos que, associados a recursos humanos capacitados, permitiriam implementar as medidas  corretivas necessárias na instituição. Na busca da preservação de nossa história, entretanto, tem de se aplaudir as pequenas providências adotadas por sua administração e que desacelerarão a degradação de bens.          

REFERÊNCIAS:

FRONER, Yacy-Ara;  SOUZA, Luiz A.C. Preservação de bens patrimoniais. In: Tópicos em Conservação Preventiva. Belo Horizonte. Escola de Belas Artes. 2008.

GOOGLE MAPS. Disponível em <https://www.google.com.br/maps/place>. Acesso em 10 de outubro de 2015.

http://museujuliodecastilhos.blogspot.com.br/

IBRAM. Gestão de riscos ao patrimônio musealizado brasileiro. Rio de Janeiro. 2013.

LEAL, Elisabete da Costa. Filósofos em Tintas e Bronze: arte, positivismo e política
na obra de Décio Villares e Eduardo de Sá. Rio de Janeiro, 2006. 298 f.: il.
NEDEL, Letícia Borges. Breviário de um museu mutante. Universidade de Brasília – Brasil. In: Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 11, n. 23, p. 87-112, jan/jun 2005

SILVA, Ana C.F. O museu e a consagração da memória de Julio de Castilhos (1903-1925). Trabalho de conclusão de curso (graduação em Museologia) Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

Fotos atuais: da autora do blog.  


   


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